Inaiara Florêncio: “mais do que contratar, é preciso pensar a inclusão, de fato”

by Luiz Gustavo Pacete

Depois de passar pelas agências SunsetDDB e Adventures, sendo na última também como sócia, Inaiara Florêncio chega à edutech Galena, do Grupo GK Ventures, assumindo como head de marketing e comunicação. A startup mantém parcerias com empresas como iFood, QuintoAndar, Stone, Unilever e Dell, e se propõe a oferecer formação acessível a jovens da periferia.

Inaiara Florêncio deixa a Adventures para atuar como head de marketing e comunicação Galena e, nesta entrevista, fala sobre inclusão, marketing, propósito e inovação

“Em muitos momentos, eu era a única mulher preta em alguma posição de liderança nos lugares que passei. Conforme fui crescendo, esse abismo ficava cada vez maior. Não tem como deitar tranquila como se isso fosse algo normal. Quando a gente chega lá, vê que tem muita coisa para fazer. É como se fosse uma missão infinita.”, explica Inaiara. Ao Marketing Future Today, a profissional que é jurada da edição do 2021 do prêmio Smarties, fala sobre diversidade, inclusão e o papel do marketing neste contexto.

Marketing Future Today – O que esses anos todos no mercado publicitário contribuiram para essa nova jornada, como o marketing pode ensinar à educação?
Inaiara Florêncio – Estar na linha de frente da comunicação de marcas de todos os portes, alinhado à visão de embasamento em dados, comportamentos e o que acontece no real time, me fez aprofundar cada vez mais em estratégias inovadoras, mas que conectassem objetivos de negócio e a demanda do mundo. Para além do marketing de experiência, estamos vivendo o marketing de transformação. Não é mais sobre como um produto pode mudar a sua vida, mas como que apoiando marcas, cada indivíduo pode ajudar a transformar um pouco do mundo ou meio que vive.

Inaiara Florêncio

MFT – O que você presenciou, na prática?
Inaiara – Mas a minha trajetória enquanto mulher preta (muitas vezes a única pelos lugares que eu passei) também me trouxe até aqui. A consciência executiva do abismo social que existe está escancarada. O impacto da pandemia foi absurdamente desigual, os números de jovens desempregados e que pararam de estudar são alarmantes. Atrelar minha experiência em publicidade, à educação, demanda de mundo e uma proposta de negócios empreendedora de impacto social, pode ajudar a responder às tendências do mercado e às novas demandas com mais agilidade. Ou seja, a busca por inovação, impacto e engajamento continuarão a me guiar para o futuro. Mas mais do que nunca muito alinhada ao meu propósito de transformação e de enfrentar o que me incomoda de maneira exponencial e sistêmica. E enquanto profissional de comunicação temos o papel de nos responsabilizarmos por essa transformação.

MFT – Literalmente, sua nova fase está na base, qual a importância de avançarmos a discussão da diversidade e inclusão para além do mundo corporativo e olhar para a base?
Inaiara – Nos últimos anos eu tenho trabalhado em projetos paralelos tentando abrir portas para jovens de um lado, conectar do outro as empresas e provocar no meio do caminho. Um exercício árduo. Se por um lado empresas e agências de publicidade abraçaram a causa da diversidade e inclusão (muitas por cobrança ou por entenderem o impacto real em seus negócios), por outro o gap entre o que a empresa faz e o que os funcionários vivem é bem diferente. Atuar com a geração Z é estar com a visão inquieta e estruturada no futuro. A educação pode ajudar a reduzir desigualdades e esse trabalho precisa ser feito na base, mas também precisa caminhar junto com ações em outras áreas, com uma visão sistêmica, para garantir mudanças efetivas. As lideranças de hoje ainda têm muitos pontos não considerados em relação à diversidade e inclusão. Mais do que contratar grupos politicamente minorizados para atender a números, é preciso pensar em inclusão de fato. Isso requer um comprometimento real dos líderes e a construção de uma trilha customizável e baseada nas necessidades de cada grupo e organização.

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