Julio Beltrão: “criadores pretos fazem história não apenas entretêm”

by Luiz Gustavo Pacete

Na última sexta-feira, 12, a Mynd, uma das maiores agências de cultura digital, responsável pela estratégia de nomes como Gil do Vigor, Camilla de Luca, Matheus Mazzafera, Luísa Sonza, Ludmilla, Pabllo Vittar, Cleo, Pocah, Tainá Costa, Gkay, entre muitos outros, anunciou o“Potências! A premiação do agora”, uma premiação que vai reconhecer a potência preta no mundo artístico. No dia 23 de novembro, Preta Gil, cofundadora da Mynd fará uma live apresentando o projeto.

Julio Beltrão, líder do squad de criadores de conteúdo pretos da Mynd, e idealizador do projeto, reforça, em entrevista ao Marketing Future Today, a importância de olhar para a ancestralidade e para o trabalho dos criadores e artistas pretos muito além das pautas de diversidade, mas considerar a potência criativa. Ainda de acordo com Julio, é importante conscientizar marcas que criadores negros não devem ser uma alternativa somente durante o mês da “Consciência Negra”.

Marketing Future Today – De onde nasce o Prêmio e por que ele olha para as potências negras?
Julio Beltrão – O Prêmio “Potências! A premiação do agora”, que presta uma homenagem às personalidades pretas que se destacaram em 2021, nasce da necessidade de falarmos sobre o agora. Em todos os anos, o universo digital proporciona a potencialização da voz de muita gente incrível. Por isso, criamos uma noite especial para mostrar que podemos ter um evento inteiro só com pretos potências, seja na área da atuação, social, música e afins. Nós costumamos assistir do sofá pouquíssimas personalidades pretas sendo destaque nos principais prêmios do mercado; por isso, a ideia de ter um prêmio só nosso para celebrar o povo preto, homenageando personalidades que fazem a diferença e potencializando essas vozes através da arte e da publicidade.

O Prêmio Potências, criado pela Mynd, se propõe a reconhecer o potencial do trabalho artístico preto (Crédito: Reprodução)

MFT – Qual tem sido seus aprendizados sobre os talentos negros da Mynd que você atua e como evoluímos na relação das marcas com os talentos negros?
Julio – Temos muitos aprendizados, porém, acredito que temos muito a ensinar também, principalmente sobre o preto ser potência em diversos assuntos e não só quando se fala sobre racismo. Agora, o principal aprendizado que tiramos do nosso núcleo é o quanto criadores de conteúdo pretos estão criando história e trazendo não só entretenimento, mas questionando também o seu tempo e produzindo diversas ações que fazem mudanças efetivas na sociedade. As marcas acompanham essa mudança, e nós encontramos com mais facilidade empresas com projetos que fazem realmente a diferença na vida do povo preto.

MFT – Por que é importante ter novas perspectivas, vivências, repertórios e outros tipos de conteúdo para o ecossistema de influência?
Julio – Os criadores de conteúdo pretos sempre irão fazer mais do que o “produto colado no rosto e o tradicional: compre esse produto” para fugir do tradicional (1 post + 3 stories com cara de varejo). Além disso, são uma ferramenta anticrise para as empresas, já que campanhas com talentos pretos são campanhas que sempre irão ter uma co-criação, uma criação com repertório, vivências e, claro, lugar de falar. Isso tem um ganho imensurável para os clientes, já que, principalmente, os permite ficarem livres de uma enxurrada de menções negativas pela simples falta de proporcionalidade dentro e fora da empresa. Aqui, precisamos falar também de proporcionalidade dentro das empresas: quanto mais profissionais pretos tivermos em agências e anunciantes, cada vez mais campanhas que nos fazem sentir a sensação de representação na tela teremos, e isso, com certeza, não tem preço.

MFT – O prêmio foca em artistas em geral. Qual tem sido o impacto da ancestralidade na arte brasileira?
Julio – A arte brasileira carrega suor e sangue de mãos pretas. Imagine você um Brasil sem as referências de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo, sem o som de Pixinguinha, sem a genialidade de Grande Otelo, Elza, Gil e Leci? Precisamos reverenciar a nossa ancestralidade para que posamos comemorar o nosso presente. É muito importante que tenhamos diversas categorias, pois isso mostra para todos o quanto somos potência e o quanto temos gente de destaque na arte, no esporte, nas empresas e, claro, fazendo a diferença no dia a dia da sociedade.

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